26.9.07



30.11.05

O idílio Suave

Chegas. Vens tão ligeira
e és tão ansiosamente esperada,
que enfim, nem te sentindo o passo e já te tendo inteira,
completamente em mim,
quando, toda Watteau, silenciosa, apareces, é como se não viesses.
Vens... E ficas tão pertode mim,
e tão diluída em minha solidão,
que eu me sinto sozinho e acho imenso e deserto
e vazio o salão...
E, sem te ouvir nem ver, arde-me em febre a face,
como se eu te esperasse!
Partes. Mas é tão pouco
o que de ti se vai que ainda te vejo o arfar
do seio, e o teu cabelo, e o teu vestido louco,
e a carícia do olhar,
e a tua boca em flor a dizer-me doidices,
como se não partisses!
Guilherme de Almeida-Poeta Paulista – (1890/1969)
Estou aflita!!!

24.11.05

Companhia

" O ser humano gosta de companhia,
nem que seja apenas a de uma pequena vela acesa".

Georg Christoph Lichtenberg

23.11.05

A Bailarina

Seus pés giravam em um compasso rítmico e equilibrado que ela jamais havia conseguido imprimir à sua vida.

E assim, girando, ela seguia o percurso que não a levaria à glória, nem ao sucesso.

E de girar, seu corpo alçou vôo e leve se fez.
As pontas dos dedos já não tocavam o chão, já não sentiam a pressão do corpo sobre si.
Seus movimentos certos e ensaiados deram lugar a movimentos irregulares e inseguros de quem dá seus primeiros passos por sobre o mar.
E ela andou, e correu, e saltou, e dançou,
dançou...
...e dançou.
E satisfeita lançou seu corpo inerte e exaurido ao sabor do vento. E ele a fez, mais uma vez, dançarilhar. Te que, de volta ao salão, seu sorriso iluminou seu rosto e trouxe ao corpo a graça dos que se permitem dançar com o destino.

Texto de Jaciara

Foto de Athos Guedes http://spaces.msn.com/members/athosguedes/PersonalSpace.aspx?_c=

22.11.05

Nalgum lugar perdido

Olhar-te um poucoEnquanto acaba a noiteEnquanto ainda nenhum gesto te magoaE o mundo for aquilo que sonharesNesse lugar só teuOlhar-te um poucoComo se fosse sempreAté ao fim do tempo, até amanhecerE a luz deixar entrar o mundo inteiroE o sonho se esconderNalgum lugar perdidoVou procurar sempre por tiHá sempre no escuro um brilhoUm luarNalgum lugar esquecidoEu vou esperar sempre por tiEnquanto dormesPor um momento à noiteÉ um tempo ausente que te deixa demorarSem guerras nem batalhas pra vencerNem dias pra rasgarEu fico um poucoPor dentro dos desejosPor mil caminhos que são mastros e horizontesTão livres como estrelas sobre os maresE atalhos pelos montesNalgum lugar perdidoVou procurar sempre por tiHá sempre no escuro um brilhoUm luarNalgum lugar esquecidoEu vou esperar sempre por ti
Mafalda Veiga

21.11.05

O Ponto

Chegamos ao ponto,
O ponto mais difícil das nossas vidas.
Esse ponto inevitável tornou-se um ponto de atrito.
E todo esse atrito gerou um ponto desgastado e carcomido que não há ponto que segure.
Fico me perguntando, em que ponto
nossas vidas perderam o ponto?
E sempre chego ao mesmo ponto:
O ponto de equilíbrio, o ponto de partida, o ponto de chegada...
A verdade é que estamos em pontos
diferentes e isso nos leva
ao Ponto Final.

20.11.05

Cacos de Cristal


Hoje senti sua falta.
Olhei a chuva e pensei
que seria melhor se estivesse aqui.
Dias de chuva são sempre mais tristes.
Tudo, absolutamente tudo, me faz lembrar
tempos que se foram:
o cheiro da terra molhada, o céu escuro,
a água correndo...
O desejo de aninhar-se, de sentir o calor dos corpos num contato cúmplice.
Foi então que senti sua falta.
E chorei...
Não o choro deseperado dos que não viveram um amor verdadeiro, mas o choro consciente e impotente de quem o achou e o perdeu.
Achá-lo e perdê-lo foram momentos igualmente carregados de sensações indescritíveis.
Resta agora a dolorosa tarefa de juntar os cacos daquilo que foi um belo e raro cristal.
Belo, raro, mas também delicado e insubstituível.